11 de maio de 2016

De Azedinho a Vitório: uma história real

    Olá! Tudo bem? Hoje vou contar uma história real, bem comprida então reserve um tempo para ler. Foram vários sentimentos vividos em cerca de três horas, alegria, tristeza, surpresa, raiva, medo, esperança...

  Azedinho é um cão de rua de Joinville SC, porte médio,mais ou menos 5 anos de idade. Ele foi resgatado com uma infecção séria no pescoço e encaminhado para uma clínica veterinária. Foram dias de internação até ele receber alta, porém o tratamento continua com curativos uma vez por dia...

  Achar um lar para um filhote é mais fácil, mas para um cachorro que precisa de cuidados e anti social (sim ele se assusta com humanos e tenta morder) é achar agulha no palheiro.

  Para nossa felicidade e do Azedinho, encontramos uma senhora  muito simpática disposta a adotá-lo com todos os seus diferenciais...

  Eu, a Manu e mais uma amiga fomos levar o Azedinho até sua nova casa. Felizes, com a sensação de missão cumprida. Pegamos sua receita, remédios, colocaram focinheira e guia e ele foi no banco de trás do carro com o cinto de segurança. Chegando lá, a senhora proprietária da casa teve um compromisso e teve que sair, mas nos explicou como entrar e onde deixar o Azedinho.

   Chegamos na frente da casa, uma casa simples com alguns reparos a serem feitos mas nada que impedisse a adoção de um cachorro. Resolvemos entrar e conhecer o local antes de levar o Azedinho para o seu novo lar. Não sei explicar com palavras o que senti, só desejava sair de lá e que a Manu (10 anos) não estivesse ali dentro comigo. Estávamos dentro da casa de uma acumuladora. A única peça limpa era o banheiro para o Azedinho ficar...

  A ida até o carro foram segundos de milhões de pensamentos, a certeza que aquele não era o melhor lar, mas sem outras opções. Sentimento de impotência por não ter como privar minha filha daquela situação, não ter outro lar para o Azedinho e não saber como ajudar aquela senhora. 

  Chegando no carro, adivinhem? Sr. Azedinho sem focinheira, sem guia e solto dentro do carro. Cena de quase duas horas, nós três do lado de fora olhando para o cão dentro do carro. Às vezes  ele abanava o rabo olhando para a rua e às vezes mostrava "gentilmente" os dentes para mim.

  Restou aumentar a dívida e chamar novamente a Clínica Bicho de Estimação, que o tratou e medicou todo esse tempo, e duas moças foram nos ajudar. 

  Na hora que o pegaram, foi um momento difícil. O Azedinho, recebeu este nome pelo seu temperamento e ele não facilitou em nada, muito pelo contrário... Tristeza, nervosismo e muita vontade de chorar porque vi e vivenciei sua agressividade, e saber que  o seu comportamento é um mecanismo de defesa é quase inexplicável. 

  Presenciamos as consequências do abandono e dos maus tratos, porque o Azedinho é o reflexo disso.  Constatar que ele é um sobrevivente, pois a média de vida de um cão de rua é de 2 a 3 anos  e ele superou esta média. Ver que a nossa tentativa de ajudar é mínima diante de tantos casos por aí,sentir na pele esta realidade é difícil demais. Aquelas cenas com certeza vai ser difícil de esquecer...

   Impotência, senti isso e hoje digo que admiro ainda mais as protetoras que infelizmente convivem com este sentimento, de não dar conta, de ver que há muito o que fazer e estrutura de menos para isso. Se arriscam, se endividam e se frustram constantemente porque não há condições de ajudar todos os animais abandonados, e o caso do Azedinho é um em muitos...

  Mas vamos voltar aos fatos: Azedinho voltou para a clínica e não podemos colocá-lo para adoção com este temperamento, assim como não há po$$ibilidade de mantê-lo na clínica. O que fazer?

  Agora você deve estar se perguntando, mas o Projeto Manu Pets não apoia o Abrigo Animal? Leve-o para lá...  E eu respondo que é impossível, porque o Abrigo Animal está super lotado, e o Azedinho precisaria de um canil isolado para evitar confusão com os demais cães, esqueci de dizer que os veterinários que o cuidaram desconfiam que sua infecção no pescoço foi gerada por brigas.

  Nós 3 voltamos com os olhos cheio de lágrimas por vivenciar tudo aquilo e não achar solução... o concreto que tínhamos naquele momento era mais dívidas pela hospedagem do Azedinho e não ter um lar para ele...e a preocupação de agir para ajudar a senhora.

  Resumindo, conseguimos um local seguro para o Azedinho ficar  e durante o seu tratamento  uma moça da Clínica vai no seu intervalo de almoço fazer o curativo gratuitamente. Ele será um cão de guarda, de um local grande, mas cercado e aos poucos vamos tentar socializar o Azedinho. Aproveito para dizer que aceitamos dicas de pessoas especializadas sobre como melhorar a confiança dele em humanos. E vamos encaminhar sua castração assim que quitarmos a dívida na clínica.
   
   Mas de tudo isso ficou um aprendizado...

  Acho que Deus nos enviou para aquela casa com a finalidade  de ajudar esta senhora e é o que faremos, um mutirão para limpar tudo e quem sabe conseguir terapia e acompanhamento médico gratuito.

  Aprendi que resgatar animais é para quem é muito forte emocionalmente e eu não tenho estrutura para isso, mais outro aspecto que admiro as protetoras. Não vou deixar de ajudar, mas não vou ultrapassar meus limites e nem expor a minha filha (embora não tenha sido intencional o fato ocorrido).

   O Manu Pets, não faz resgates, este caso foi uma exceção, porque o Azedinho vivia na rua de uma voluntária do Projeto e ela pediu ajuda. O resgate foi feito e o Azedinho foi encaminhado para a Clínica Bicho de Estimação, mas sem convênio algum, os custos estão sendo pagos com doações. 

  Prometi que jamais vou colocar a Manu com apenas 10 anos em situações assim novamente. Ela acompanhou o caso do Azedinho, porque já o conhecia da rua e estava feliz em poder levá-lo para o novo lar. 

  Quero que sua inocência de proteger e cuidar dos animais seja preservada, e lá na frente quando ela tiver maturidade vai poder escolher o que fazer diante dos "impasses" para não dizer "desastres" da causa animal.  

  De agora em diante, não importa se for um cão conhecido de uma voluntária, ou amigos não iremos nos envolver, é demais para ela, que já faz muito com o Projeto. Espero que compreendam, mas resgatar envolve muita estrutura emocional, e não é para qualquer um, muito menos para uma criança. E assumo sem vergonha alguma, eu, Caroline não tenho condições. Também assumo que depois do Projeto me afastei das redes sociais, justamente para não ver tanta crueldade com os animais. 

  Ainda temos uma dívida de mais de R$ 1000,00. Toda ajuda é bem vinda, aceitamos doações de qualquer quantia é só levar o valor até a Clinica Bicho de Estimação.
 Também temos um bazar no Brechó Chic na Max Colin 1164, com peças a R$5,00 e o dinheiro destes artigos já estão sendo revertidos para a conta do Azedinho.

  Manu chorou muito,e eu fiquei péssima com isso, porque não pude evitar,minha função é protegê-la e não consegui. Mas fiz ela ver o lado positivo disso tudo,sim ele existe.

  Encontramos um local seguro para o Azedinho o qual teremos acesso para visitá-lo e seu tratamento está garantido. 

  Somos gratas por toda ajuda e apoio que recebemos, nisso tudo teve envolvimento direto e indireto de várias pessoas,as quais não citarei nomes, mas deixo registrado aqui nosso MUITO OBRIGADA.

  Aprendi e mostrei para a Manu que o Azedinho na verdade é um vitorioso, hoje nos meus pensamentos,o nomeei de Vitório, porque ele sobreviveu nas ruas tanto tempo e aprendeu a se defender. Seu ataque é reflexo de medo,mas acredito que terei boas notícias para dar, sei que ele não é o único mas deixo aqui  algumas lições para refletirmos e um relato de Azedinho a Vitório...




Imagens do Azedinho na rua e na clínica. Em breve, assim que ele estiver recuperado compartilharemos mais imagens.

Texto: Caroline Canabarro (mãe da Manu e voluntária do Projeto Manu Pets)

2 comentários:

  1. Caroline! Essa é a nossa realidade, infelizmente. Tem toda a razão em proteger sua filha enquanto for possível, pois nem sempre as histórias de resgate terminam bem e felizes e nossa capacidade de ajudar tem limites. Parabéns por não desistir do menino. Que ele seja muito feliz!

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  2. Caroline! Essa é a nossa realidade, infelizmente. Tem toda a razão em proteger sua filha enquanto for possível, pois nem sempre as histórias de resgate terminam bem e felizes e nossa capacidade de ajudar tem limites. Parabéns por não desistir do menino. Que ele seja muito feliz!

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